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domingo, 27 de novembro de 2011

SOBRE O DIFÍCIL


Rainer Maria Rilke, em suas Cartas a um Jovem Poeta, dizia que “...mas é claro que nós devemos agarrar-nos ao difícil. Tudo o que é vivo se agarra a ele, tudo na natureza cresce e se defende segundo a sua maneira de ser; e faz-se coisa própria nascida e contra qualquer resistência. Sabemos pouca coisa, mas que temos de nos agarrar ao difícil é uma certeza que não nos abandonará. É bom estar só, porque a solidão é difícil. O fato de uma coisa ser difícil deve ser um motivo a mais para que seja feita.”
No resto do texto em que se desenvolve, é possível vislumbrar alguma razão no que aqui ele enuncia, ainda que seja DIFÍCIL a tarefa.
Mas esquecendo o resto, sem esquecer do que é difícil, atentando apenas para o que está dito nesse enunciado, vou me lembrando da primeira vez que li esse texto, aos 17 anos.  Li e não sabia se não havia entendido, se aquilo não fazia sentido para mim de forma legítima (porque não era mesmo parecido com o que eu pensava), ou se o problema era que eu era jovem.  No resto do texto, ele diz isso mesmo, que os jovens são impacientes e, portanto, todo o resto...
Aguardei 30 anos então, para ver se a maturidade me traria paciência.  Ela trouxe. Esperei então que a maturidade me fizesse ver assim no difícil um valor em si.  Não fez.
Existe mesmo um senso comum que nos instiga a buscar o difícil, a valorizá-lo sobre o fácil.  Existe o lugar-comum de considerar as “mulheres fáceis” menos apreciáveis do que as difíceis. Existe a valorização do “Colégio forte” (leia-se, difícil), existem milhares de exemplos possíveis, sobre como acreditamos que o difícil é um valor per si.
No entanto, passados os 30 anos a que me dispus esperar a maturidade, a paciência e finalmente a compreensão chegar, ainda não testemunhei o valor do difícil.  Nem mesmo no que Rilke defendia afinal: manter-se na solidão, permanecer um, para então ... o resto.  Concordo com ele sobre o resto.  Mas isso, só tem valor e acessibilidade, QUANDO NÃO É MAIS DIFÍCIL.
O difícil, ao contrário de um valor per si, ao contrário de “O fato de uma coisa ser difícil deve ser um motivo a mais para que seja feita”, é um limite, um aviso, uma baliza mesmo, sobre os nossos caminhos a seguir e o tempo certo da jornada. Se tem algum significado, o difícil, é o de sinalizar a importância que nós mesmos damos a alguma coisa, a ponto de decidirmos ir por ali APESAR de ser difícil.  É essa importância que damos às coisas APESAR do difícil, é que permite que essa confusão se estabeleça.
Porque quando desejamos algo que não é difícil, fazemos o caminho sem termos de esperar, sem limites, com prazer, mas sem pesar essa importância, sem trazer à consciência, colocar na balança, ponderar a decisão.  Mas isso muda o valor da coisa? Em quê?
Pode-se argumentar que além do prazer da coisa, temos também o prazer da superação.  É possível, mesmo.  Daqui a mais 30 anos, talvez eu consiga reconhecer o prazer da superação pela própria superação.  Daqui de onde vejo, superar o que quer que seja: uma dificuldade, uma limitação, dá prazer porque chegamos aonde queríamos ir e não porque algo esteve a nos impedir.  Talvez eu não entenda porque não sou das pessoas que adoraria vencer uma guerra, mas daquelas que detestaria estar em uma, ganhando ou perdendo.  Pode mesmo ser que more aí: o sabor do difícil é da mesma classe que o sabor da vitória.  Eu aprendi que ela tinha gosto de Kollynos, então não dou muita bola prá isso.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Diacronica

"Diacronia ou lingüística diacrónica é a descrição de uma língua ao longo de sua história, com as mudanças que sofreu. " (Wikipedia)
No dia da independência, acordo. Estou de acordo com a minha vida e história.  Estou pertencendo a mim mesma, repleta dos meus conteúdos.  Nado de braçada no meu nada.  E não ligo prá tudo.

O que há de bom no feriado da independência, é que é feriado:  posso parar.  Não consigo pensar em maior independência do que esta: poder parar.  Deixar de seguir o fluxo das demandas alheias, sem ser pisoteada pela multidão. Ouvir atenta o som dos meus passos, indo aonde quero ou vindo de onde vim.  Escutar a fala original e ver aonde foi que chegou, como chegou.  Reconhecer nesta fala as síncopes, aféreses, apócopes da minha história.

Dito isto, paro.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Um ano

Faz um ano.  E ele ainda está. Transmutado em força, em paz, em aqui agora. Todos os dias alimento e sou alimentada por um imenso respeito.  E agradeço.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Síndrome da mão alheia



Foi de repente.  Acendi um cigarro, como faço quando estou precisando relaxar.  Mas estava no carro, dirigindo, então o segurei com a mão esquerda.  Detestei o gosto, não senti nenhum prazer.  Fiquei enraivecida com aquele objeto, incandescendo minha paciência, minha noção da vida.  Não sei colocar em palavras, nem era isso que eu sentia.  Não gostei, é só.  Apaguei o cigarro ainda inteiro.  Nunca mais fumei.... dirigindo no carro.  Nunca mais fumei...com a mão esquerda.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Para explicar quem somos

Ironia Perfeita - José Saramago

"Fernando Pessoa é o irónico por excelência. E toda essa invenção dos heterónimos é uma obra-prima de ironia. Esse dotar de voz própria ao conjunto de “eus” que convivem em cada um de nós parece-me a ironia perfeita."

Se é assim, talvez acabe por ser irônico iniciar o blog com essa citação.  Quando tive de escrever o "quem sou" só conseguia pensar no conjunto de "nós" que convivem em cada um de mim.