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sábado, 3 de março de 2012

House - O diagnóstico excruciante do cotidiano

Aluguei a temporada 6 de House.  Passei a semana na maratona.  É diversão e é aflitivo.  O nome House, já é por si revelador de uma história interna, de uma perspectiva doméstica e não demesticada da vida.  Poderia ser um romance psicológico.  Eu frequentemente tenho vontade de escrever um que se chama condomínio, contando essa perspectiva do mundo através dos seres que me habitam.
O que mais me atrai é o modo como tudo é exposto.  O tempo todo, se mostra nos diálogos o que o outro oculta.  Para fazer isso, é necessário mostrar-se também, pois a percepção do que o outro oculta só é possível porque faz parte do próprio repertório de ocultamento que o Eu utiliza.  Somos todos humanos.  Todos infelizes, mentirosos, o pior de nós, sempre.  Quando isso é revelado, exposto, arregaçado, só sobra a humanidade, a graça, a leveza.
É assim que eu vejo a vida.  Uma busca por um diagnóstico que sintetize todos os sintomas mais exdrúxulos que manifestamos diariamente.  O que quer dizer a maioria destas palavras que saem pululando inadivertidas das bocas das pessoas ao nosso redor?  O que quer dizer cada atitude, cada gesto cotidiano que nos afeta amiúde?
Vivemos de diagnosticar o real e o imaginário.  De tentar buscar sentido no conjunto de dados que recebemos e processamos com nosso reportório interno de preconceitos, medos, desejos e a melhor das boa-vontades.
Na maior parte das vezes, somos cruéis conosco e com os outros, porque não nos toleramos ingênuos e nunca abrimos mão da nossa inteligência.  Destruímos tudo, reduzimos tudo aos vícios e más intenções.  Não nos salvamos e não salvamos ninguém.  Nenhuma ingenuidade é permitida, nenhuma pureza.
Ao final, no entanto, só resta de nós a humanidade.  O diagnóstico final vem, quase sem explicar ou dar sentido.  Nada alivia, mas ganhamos fôlego para o próximo exercício.
Quando nada mais há para perder ou destruir, podemos ser só estes solitários e desejosos seres que sempre podem melhorar.