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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Dança d'onça

Veio a dança atiçar meu coração.
E veio leve, seguindo os veios dos meus rios tortuosos e doces. Ora seiva, ora lama, ora sangue, ora água límpida que deságua, onde?. Ora pedra.
Movo ou paro. Posso. Possuo a imensa fluidez da vida em meio peito. E arrebato, arrebento, arranco tronco e assusto vento.Invento. Amanso. Acanho.
Tranço braços, mãos, emoções baratas. Assento.
Volto.Passo. Passo. Ponte. Aporte. Amparo. Aparo. Espio. Esvai.
Sem aviso. Cutuquei a dança com vara curta.
Volta?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Pó de tempo

Então me dei conta. E naquele momento me senti invadida por uma onda desagregadora de emoções. Tudo estava subitamente fora de lugar. Todas as caixas da memória reviradas, o sótão, a poeira. Setenta anos de história posto ao chão e disposto em movimento.
Foi então que eu vi que havia nos escombros cartas e mapas de navegação.
E quis, mais que tudo dispor de tempo.  Tempo para admirar os escombros.  Tempo para colocar as coisas em fluxo, para descobrir em quais rios jogar cada peixe, cada pedra, cada alga que antevia.
E quis mais. Porque nos escombros, mais eu vi, mais via, mais vivia.
Doíam os ossos. Meu olhar seguia. Uma pedra entre eles se mostrava. Não a reconhecia. Quis sentir a pedra. Quis parar o tempo. Quis vê-la mais perto. E ela escorregou e encontrou seu fluxo, caindo pelos olhos.
Há ainda tanto a tratar. Setenta anos de história esparramada em meu corpo. Milhares de dejetos misturados em meus tecidos. Cada um deles único, cada um deles próprio, esperando sua hora de desaguar.
E quis que parasse o mundo, que nada mais externo me alcançasse. Que o tempo fosse todo feito de pontes, poemas, fotografias, mapas e cartas de navegação. E que o resto só existisse na chegada.