Pesquisar este blog

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Segredo

Não conto. Não conto.
Assim fiquei até o sino tocar. Um sino de Vegas. Um sinal. Uma representação absurda.
O sino tocou e ela veio. Veio rápido. Desconectada. Tentando outra representação. Uma que fizesse sentido. Mas nada fazia sentido na vontade daquele senhor.
Ele se acreditava. Engolia as próprias palavras, sem mastigar. As palavras que deixava sair eram "educativas". Até poderiam ser, se não fosse a ironia. Ironia grosseira, áspera. Mas ele acreditava que aqueles outros, que atendiam a sinos, não decifrariam as palavras não ditas, as malditas.
Acreditava que nós outros, espectadores, acharíamos magnânimo o seu esforço educativo, seu espetáculo. Outra representação.
Agora conto. Conto até 10. Conto mais 100 enquanto mastigo, sem conseguir engolir. Não pelos defeitos supostos na comida ora crua, ora grudenta, ora, ora. Não engulo a cena, o som do sino, o sinal inequívoco da diferença de humanidades, a balança pendendo despencadamente para o lado dela. Ele, em seu prato, tentava colocar o peso dos títulos, dos diplomas, do dinheiro, da arrogância. Mas quanto mais empilhava posses e poses, menos o prato pesava de humanidade.
A pretensão não tem massa.
Pronto, contei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário